sábado, 1 de dezembro de 2007

Estratégias de coping

Como se referiu aquando da análise das implicações psicológicas devido ao excesso de peso, a obesidade per se não se relaciona com problemas psicológicos como depressão e ansiedade. Hill e Williams (1998, in Karlsson, J. & Rydén, A., 2001) sugerem o efeito mediador de factores cognitivos entre a obesidade e a saúde mental. Seguindo esta linha de investigação, Karlsson e Rydén (2001) propuseram a introdução do conceito de coping[1] para tentar compreender o porquê de alguns indivíduos sofrerem por serem obesos, enquanto outros não. Visto haver pouco conhecimento sobre os mecanismos psicológicos envolvidos no ajustamento do indivíduo ao facto de sofrer de uma doença crónica como a obesidade, estes autores procuraram perceber como as pessoas obesas lidavam com a sua situação e tentavam ultrapassar o stress. Desse modo, tentaram identificar as estratégias de coping utilizadas pelos diferentes sujeitos e analisar o seu impacto sobre o stress decorrente da obesidade. I.é., tentaram perceber se os indivíduos usavam o coping centrado no problema, onde a pessoa tenta diminuir o stress reconceptualizando o problema cognitivamente, minimizando os seus efeitos ou resolvendo-os; ou se, por outro lado, usavam o coping centrado na emoção, desenvolvendo respostas como o sonhar acordado, preocupação consigo próprio ou regulação emocional.
Os autores encontraram três factores de coping associados especificamente à obesidade, dois deles relacionados com estratégias mais activas (centradas no problema), como a “confiança social” que reflectia o modo como as outras pessoas eram vistas como potenciais fontes de ajuda para a resolução de problemas e o “espírito lutador”, onde os problemas são encarados como desafios para serem resolvidos, enfatizando aquilo que é possível fazer. O terceiro factor, designado “pensamento ilusório” (wishful thinking) e correspondente a uma estratégia orientada para a emoção consistia em pensar em métodos que facilmente o fariam perder peso ou em pensar em coisas que iria fazer quando deixasse de ser obeso.
Quanto ao impacto específico do stress nos indivíduos obesos, foram encontrados dois factores, a “Intrusão”e a “Desesperança” (Helplessness). O primeiro factor era referente ao impacto negativo que a obesidade tinha em todos os aspectos da vida e como tal ocuparia o pensamento, i.é., onde o peso seria a única preocupação do indivíduo e onde o mundo era visto em função do seu peso. Já o segundo factor, designava a situação onde a pessoa não sabia o que fazer, não tinha controlo sobre a sua vida e associava-se a sentimentos de fraqueza.
Estudos que analisaram as estratégias de coping centradas no problema chegaram a diferentes conclusões, podendo este estar ou não associado a melhorias na saúde mental, enquanto que o coping centrado na emoção foi associado ao aumento do stress (Endler & Parker, 1992 in Karlsson, J. & Rydén, A., 2001). No entanto é preciso ter em consideração que tais estratégias são influenciadas por factores situacionais e pessoais, e quanto à influência do estilo de coping sobre o stress, este deve ser visto como um processo interactivo, i.é., o modo como a pessoa lida com a situação influencia as suas reacções emocionais e estas, por sua vez, influenciam o modo de lidar com a situação. Assim, na presente investigação em análise tanto o “espírito lutador” como a “confiança social” reduziam o sentimento de stress, mas enquanto o primeiro tinha um forte efeito na “intrusão”, o segundo tinha um efeito fraco na “intrusão” e “desesperança”. Por sua vez, o “pensamento ilusório” aumentava o stress e estava altamente relacionado com a “intrusão”. Tal indica que esta estratégia de coping poderia ter sido eficaz em reduzir o stress no início, servindo como incentivo para a mudança. Mas visto o facto de o “ser obeso” não se ter alterado com esta estratégia, a dissonância entre a realidade e a fantasia poderá ter levado a um aumento do stress.
Concluindo, pode-se dizer que as estratégias de coping centradas na resolução do problema são adaptativas, enquanto as que se centram na emoção demonstraram ser desadaptativas no caso da obesidade.
[1] Coping refere-se às estratégias conscientes com o objectivo de reduzir o stress; Stress refere-se a uma reacção emocional a situações adversas.

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