sábado, 1 de dezembro de 2007

Comportamentos de controlo de peso não saudáveis e ingestão compulsiva

As pessoas obesas têm uma maior tendência para se socorrerem de comportamentos não saudáveis com o objectivo de controlarem o seu peso, nomeadamente laxantes, diuréticos, tomar comprimidos para emagrecer ou vómito auto-induzido, sendo mais prevalente nas raparigas adolescentes (Neumark-Sztainer, Story, Falkner, Beuhring & Resnick, 1999).
Verificou-se também que relativamente às pessoas de peso normal, os obesos têm uma maior tendência para a ingestão compulsiva (Marcus, 1993 in Haines, J. & Neumark-Sztainer, D., 2004), sendo mais comum no género feminino, adolescentes e adultos e na população clínica.
Vários factores foram apontados para tal ocorrência: factores fisiológicos (apetite aumentado), comportamentais (ex. resposta à restrição alimentar), psicológicos (ex. resposta ao humor depressivo) e sociais (ex. maior exposição a situações indutoras de stress como a estigmatização relacionada com o peso). Segundo Cerqueira (1999 in Sousa, P. 2006), os indivíduos obesos recorrerão à comida como mecanismo de defesa face ao stress e ansiedade, e sobretudo ao défice de afecto, comunicação, dedicação e estruturação familiar.
A Perturbação de Ingestão Compulsiva (PIC) está incluída no DSM-IV como proposta de categoria diagnóstica que necessita de estudo e como exemplo de Perturbação do Comportamento Alimentar Sem Outra Especificação. De um modo geral, podem ser apresentadas como características desta perturbação o comer até estar desconfortavelmente cheio, comer quando não se tem fisicamente fome, comer sozinho, experimentando sentimentos de depressão ou culpa. Relativamente à sua prevalência, existe uma enorme diferença entre a população geral e a clínica, sendo respectivamente de 0,7-4% e 15-50% (DSM-IV-TR,2000).
De notar que a maioria das pessoas diagnosticadas com PIC possui variados graus de obesidade, no entanto, tal diagnóstico não se restringe às pessoas obesas.
Os episódios de compulsão diferem nas pessoas obesas e nas pessoas diagnosticadas com Bulimia Nervosa, as quais também recorrem à ingestão compulsiva. Assim, verificou-se que os obesos ingeriam mais gorduras em vez de carbohidratos, consumiam cerca de metade das calorias e faziam-no com menor frequência relativamente aos indivíduos bulímicos. O que parece despoletar os episódios de ingestão compulsiva são situações que se verificaram estar associadas em algum grau à obesidade, o que pode explicar a prevalência desta perturbação nos indivíduos com obesidade, como por exemplo estados emocionais negativos como a raiva, frustração, ansiedade e depressão, situações sociais, o período do dia e o tipo de refeição.
Outro facto importante é a existência de uma correlação positiva entre a severidade da ingestão compulsiva e o grau de obesidade, demonstrando que os obesos com esta perturbação relatam o estabelecimento mais precoce da obesidade, o iniciar mais cedo de dietas e a preocupação com o seu peso, referem igualmente uma maior flutuação de peso no passado, gastando também mais tempo no estado adulto a tentar perder peso.

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