sábado, 1 de dezembro de 2007

Infância

No que diz respeito às crianças, podem ser apontadas algumas causas fisiológicas para o desenvolvimento da obesidade, nomeadamente sindroma de Cohen e de Prader-Willi, sindroma de Cushing e o uso de antipsicóticos (Laranjeira e Rodrigues, 2007, in conferência Meninos Gordos).
De acordo com a investigação de Mello et al (2004), na obesidade infantil também podemos apontar uma série de questões sociais inerentes ao crescimento exponencial da doença nesta faixa etária, nas últimas décadas. Vivemos num mundo globalizado, onde impera a influência dos meios de comunicação social, o que permitiu a chegada das cadeias de fast-food, disponibilizando refeições muito calóricas e, portanto, pouco saudáveis, muitas vezes pensadas especificamente para as crianças. Tal facto é comprovado pela existência de menus infantis (por vezes com oferta de brinde), estrategicamente difundidos por uma perspicaz rede de publicidade que alcança os seus objectivos junto dos mais pequenos. Estas refeições são atraentes e de baixo custo, daí que, por vezes, seja difícil negar às crianças uma pizza ou um hambúrguer. Estamos perante uma espécie de ciclo vicioso de agravante complexidade quando os próprios pais são apreciadores deste tipo de alimentação.
Na Conferência Meninos Gordos (Laranjeira e Rodrigues, 2007), as cantinas e o bar da escola foram também apontados como determinantes no aparecimento da obesidade, pois nem sempre confeccionam alimentos saudáveis, que facultem às crianças uma alimentação adequada.
Abordando especificamente a primeiro estudo epidemiológico sobre obesidade infantil em Portugal (Padez, 2001 – cf entrevista gravada no trabalho prático), foi identificado um conjunto de factores de risco responsável pelo seu desenvolvimento. Deste modo, foram apontados o peso à nascença (bebés com maior peso tendem a desenvolver obesidade), o período de amamentação (é um factor protector, logo quanto maior o tempo de amamentação, menor a probabilidade da criança vir a ser obesa), o tamanho da família (quanto maior o número de filhos, menor a tendência para esta doença), o número de horas de sono (um menor número de horas de sono, aumenta a probabilidade de desenvolver obesidade), o número de horas a ver televisão (directamente proporcional ao desenvolvimento da obesidade), o grau de instrução dos pais (quanto menor o nível escolar, menor informação, logo maior probabilidade de estabelecimento de obesidade) e a obesidade dos mesmos (filhos de pais obesos tendem a ser obesos).
Quanto às medidas preventivas, podemos afirmar como preponderantes as políticas governamentais, pelo seu dever em apoiar financeira e logisticamente actividades promotoras de exercício físico diário (medida aplicada, por ex, nas escolas dos países nórdicos), bem como pelo poder repressivo que deve exercer perante publicidade de produtos alimentares pouco saudáveis e mesmo no que diz respeito à sua venda nos bares escolares. Estas seriam iniciativas primárias importantes para o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável e menos obesa, no entanto de complexa aplicação (cf em anexo entrevista com Drª Idalina Maciel, pediatra, 2007).
Alguns estudos revelam ainda que 50% das crianças aos 6 meses de vida e 80% daquelas aos 5 anos, serão sempre obesas.
Tendo em atenção o estudo de Antunes (2007) existe uma série de complicações físicas ligadas à obesidade infantil, nomeadamente o aumento do colesterol, que, aliado ao excesso de peso, constitui um factor predisponente para a doença coronária. Também a arteriosclerose começa na infância com o depósito de colesterol nas artérias musculares, formando as estrias de gordura, que podem evoluir nos adultos para lesões arterioscleróticas avançadas, sendo este problema reversível, mas no início do desenvolvimento.
A criança obesa fica, ainda, segundo a mesma fonte, vulnerável a problemas ortopédicos (pé plano, tíbia vara e epifisiole femoral proximal), respiratórios (apneia do sono, asma, intolerância ao exercício), endócrinos (hirsutismo, resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2), cardiovasculares (Hipertensão arterial, coagulopatias e doença cardíaca), gastrointestinais (Litiase biliar, fígado gordo, refluxo gastro-esofágico) e ainda de problemas metabólicos como dislipidémias e neurológicos como a hipertensão intracraniana idiopática.
Na obesidade infantil e mesmo juvenil, temos de ter em conta que estamos inseridos numa sociedade em que a imagem é um factor muito importante e este aspecto começa a ser aprendido logo na infância. A criança obesa além de não conseguir participar em muitos jogos com os pares e não ter a agilidade e mobilidade próprias da sua idade, também não usufrui do aspecto de uma criança saudável, factores estes que levam à discriminação e, muitas vezes, ao isolamento da criança, contribuindo para a sua baixa auto-estima e auto-confiança.
Quando não tratados e acompanhados devidamente, estes casos podem atingir um pico de gravidade psicológica, com o aparecimento de perturbações emocionais como a ansiedade e a depressão, as quais aparecem frequentemente ligadas à ingestão excessiva de alimentos. Alguns autores defendem mesmo que há obesos incapazes de identificar e reflectir sobre as suas emoções e de terem comportamentos assertivos.
A criança obesa vive em constante sofrimento psicológico em alguns casos sofre de enurese e de baixo rendimento escolar. Tem tendência para se afastar das crianças da mesma idade e de sentir uma forte dependência em relação à família. Esta questão parece estar relacionada sobretudo com a falta de confiança nela própria, que, por sua vez, advém principalmente da discriminação e do auto-conceito de imagem corporal. Entramos quase num ciclo vicioso, em que um aspecto implica o outro num trajecto circulatório.

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