sábado, 1 de dezembro de 2007

Implicações psicológicas

Ao ter em consideração o facto dos indivíduos obesos serem enquadrados num grupo estigmatizante, sustentando-se atitudes negativas sobre a sua condição, e ao serem por isso tratados de modo diferenciado, pressupõe-se que a sua auto-estima seja afectada, visto esta ser influenciada pelas nossas percepções sobre como os outros nos vêem e tratam.
No entanto, apesar de alguns estudos encontrarem associações significativas entre obesidade e auto-estima (ex. French, Story & Perry, 1995 in Haines, J. & Neumark-Sztainer, D., 2004), outros não chegaram a tais resultados. Friedman e Carr (2005) concluíram que os obesos II/III possuíam níveis mais baixos de auto-aceitação, tendo explicado essa associação através das crenças do indivíduo obeso de ter sido tratado de um modo diferente devido ao seu peso ou aparência.
No entanto, o estudo já referido de Friedman e Brownel (1995) mostrou que as raparigas adolescentes tinham tendência para experienciar uma maior insatisfação com o seu corpo e uma baixa auto-estima, enquanto que as mulheres adultas tendiam a apresentar apenas uma insatisfação com o seu corpo. Tal pode dever-se à elevada pressão a que as adolescentes estão submetidas nesse período de vida ou então, pelo facto das mulheres adultas terem desenvolvido uma auto-estima mais positiva devido a outros aspectos na sua vida.
Outra associação que parece surgir quando se pensa em obesidade prende-se à depressão e ansiedade. Mas do mesmo modo, vários estudos demonstraram não haver uma ligação significativa entre o excesso de peso e os distúrbios psicológicos referidos, tanto em crianças e adolescentes (Friedman & Brownel, 1995; Wadden, Foster, Stunkard & Limowitz, 1989 in ibid) como em adultos da população em geral (ex. Moore, Stunkard & Strole, 1962; Friedman & Brownel, 1995).
No entanto, já na população de obesos que procura tratamento para a redução do peso, os mesmos autores verificaram ser mais comum a presença de distúrbios psicológicos comparativamente à população não obesa.
Visto isto, eles avançam com uma explicação para tais discrepâncias, referindo dever-se ao facto dos obesos serem normalmente tratados como um grupo homogéneo, algo que não se revela verdadeiro.
Relativamente à ansiedade, Costa (1997, in Sousa, P.) encontrou relações significativas entre obesidade e ansiedade-estado
[1], a ansiedade-traço e a raiva voltada para dentro. Um aspecto importante já referido anteriormente aquando da abordagem das implicações sociais, o ser submetido por longos períodos de tempo a troça ou o chamar nomes por parte dos seus pares e/ou membros da família devido ao peso excessivo, demonstrou ter um grande impacto a nível psicológico, para além de interferir nas relações sociais. Os adolescentes submetidos a esse tratamento demonstravam maus resultados na satisfação corporal, auto-estima, sintomatologia depressiva e havia uma elevada percentagem de relatos de ideação suicida e tentativas de suicídio (Eisenberg, Neumark-Sztainer & Story), verificando-se estes em ambos os géneros, nos vários grupos raciais e étnicos e grupos de diferentes pesos.
Tentando explorar um pouco mais a relação entre a obesidade, depressão e stress, Ross (1994) avançou com três hipóteses explicativas para tal relação. Se ser obeso é estigmatizante, as avaliações negativas feitas pelos outros podem ser internalizadas na forma de elevados níveis de depressão e auto-rejeição, baixa auto-estima e uma auto-imagem negativa, levando a prever que o facto de ser obeso tem um efeito directo na depressão, principalmente nos grupos sociais em que tal condição é menos comum -perspectiva da auto-avaliação reflectida – (reflected self-appraisal perspective) Alternativamente, a obesidade pode não ser stressante per se.
A segunda hipótese refere que o stress ou mal-estar advém da tentativa da pessoa se encaixar nas normas de aparência da sociedade, onde ser magro equivale a ser atraente, fazendo constantes tentativas para perder peso através de dieta. Por último, a associação poderá dever-se às consequências na saúde de se ser obeso, i.é, pode resultar mais das implicações físicas do que do próprio significado social.
Por outro lado, as pessoas com excesso de peso têm uma tendência maior para fazer dieta e para ter um pior estado de saúde, condições estas que se associam com a depressão. A privação das dietas com baixo valor calórico, a culpa sentida ao falhar na persecução de uma dieta, a preocupação que acompanha a dieta e a interferência que ela causa nas actividades sociais pode provocar stress em qualquer pessoa que realize uma dieta, e não só nos obesos.
Os resultados demonstraram que ser obeso não tem um efeito directo na depressão em nenhum grupo social, com excepção dos que têm um nível de instrução mais elevado. Apenas a perspectiva de se encaixar nas normas de aparência e a perspectiva da saúde física receberam forte apoio empírico nesta investigação. Então será esta combinação que explicará o efeito negativo de se ser obeso no desenvolvimento de depressão.
Ainda de acordo com a primeira perspectiva apontada anteriormente, a teoria do interaccionismo simbólico também refere que as pessoas obesas podem formar uma auto-avaliação negativa como reacção ao comportamento discriminatório de que são alvo (ou que é percebido como tal), pois segundo esta teoria, o auto-conceito desenvolve-se através das interacções com os outros e isso reflecte a nossa percepção da avaliação feita pelos outros (Cooley, 1956 in Carr, D. & Friedman, M., 2005). No entanto, tal hipótese foi infirmada pelo estudo empírico, tanto na população em geral como em população clínica, verificando-se que o simples facto de ser obeso não estava associado com elevados níveis de depressão ou ansiedade (O’neil & Jarrell, 1992) ou baixa auto-estima (Kim et al., 1991), como foi referido.
[1] A ansiedade-estado pode ser caracterizada como o estado emocional transitório caracterizado por sentimentos desagradáveis de tensão e apreensão conscientemente percebidos e caracterizado por um aumento da actividade do Sistema nervoso Autónomo. Já a ansiedade-traço refere-se a diferenças individuais relativamente estáveis de propensão para a ansiedade, i.é., a diferenças na tendência para reagir a situações percebidas como ameaçadoras com intensificação do estado de ansiedade (Andrade & Gorenstein, 1998 in Cataneo, C., Carvalho A. & Galindo, E., 2005).

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